NOVAS TECNOLOGIAS E AUSÊNCIA DE DIÁLOGO | Noções de direito / por Wilton Moreira da Silva Filho9/12/2019
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NOVAS TECNOLOGIAS E AUSÊNCIA DE DIÁLOGO Há alguns anos eu tive a honra, na condição de palestrante, de falar sobre os aspectos éticos e legais do uso das novas tecnologias em um seminário de telemedicina e telessaúde realizado na Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Abordei o tema à luz da Constituição Republicana e de alguns atos normativos, com destaque para o Código de Ética Médica (CEM). Aquela experiência me encheu de alegria. E me enche até hoje, todavia, nem sempre as inovações tecnológicas trazem benefícios ao Ser Humano. As novas tecnologias permitem a realização de atos médicos à distância, entre uma infinidade de cuidados relacionados ao paciente. Leva a qualquer lugar a realização do direito fundamental à saúde. Proporciona um tratamento de saúde mais rápido, em que o paciente, muitas vezes com problemas relacionados à locomoção, é atendido em sua unidade de saúde. Permanece em seu município, em sua casa, e não enfileirado em uma calçada, sob a calidez do sol, à espera da distribuição de uma ficha de atendimento. Os recursos da informática relacionados às redes de computadores são elementos que contribuem para a formação de várias redes de comunicação, tudo isso por meio da Internet, que interliga milhões de usuários a vários serviços. Da pesquisa em uma página de um site da Internet, do envio de uma mensagem instantânea, de um email, à prática de um ato médico, ao ensino à distância (EAD), tão importante e crescente hoje. Há também o emprego das novas tecnologias no âmbito do Poder Judiciário, no interrogatório por meio de videoconferência, na possibilidade de realização de audiência à distância, em que a Administração Pública economiza recursos e os agentes públicos permanecem em suas unidades, não precisam se deslocar; mas as novas tecnologias também têm outra faceta: ao mesmo tempo em que reduzem distâncias, parecem distanciar pessoas. Até no ambiente doméstico, à mesa de uma lanchonete ou na fila de um estabelecimento comercial é possível identificar o abraço que se dá nos celulares com mais recursos, hoje indispensáveis à obtenção de informação e conhecimento. Reparava ontem, na fila de um estabelecimento comercial, a ausência de interação dos usuários de smartphones com os próprios aplicativos de tais aparelhos ou com alguém, por exemplo, o filho, para comunicar o atraso para buscá-lo na escola. De igual modo, não esperava, em uma fila, que uma uma mulher perfumada e de olhar enigmático "puxasse conversa" comigo e asseverasse, pausadamente: "Saudade do que a gente ainda não viveu", mas ocorrendo, estamos aí, desde que façamos um passeio aqui nos arredores, e não em outro país. Nunca fiz uma viagem internacional mesmo. Ficaria muito feliz em conhecer o belíssimo Embraer E2 azul (que aeronave linda!), bater papo, com direito a pão na chapa, bolo e tapioca - em espaço aéreo brasileiro mesmo. Diante do comportamento das pessoas, que apenas rodavam telas, passavam telas, deslizavam os dedos para a esquerda e para a direita (não liam, não enviavam mensagens, não buscavam notícias emanadas do trabalho dos jornalistas, que se debruçam com paixão no seu trabalho, não abriam fotos de uma viagem, a agenda, o bloco de notas, um aplicativo de produtividade). Os sistemas operacionais pareciam drogar aquelas pessoas na fila, elas não estavam produzindo ou ajudando um colega de trabalho a solucionar um problema. Elas não estavam estudando, lendo algo, buscando informações sobre qualquer assunto, sobre as decisões políticas, elas não escutavam música. Imagine dirigir a palavra ao próximo, mas não do jeito que alguns vizinhos meus fazem no elevador, invariavelmente: "Hoje está fazendo calor, não é?". Confesso que tenho vontade de dizer: "Desculpe, qual o nome do senhor (de fato, não sei dizer)? Senhor Dr. X, Y ou Z, COMO VAI? Ou, se a educação não fosse uma das minhas poucas virtudes, ao lado da humildade, diria: "Não, não tá quente. Tá frio. Sinto-me no Sul. Tem um casaco pra me emprestar?". Retorno ao contexto da fila do estabelecimento: todos de cabeça baixa, olhando para o display do smartphone, deslizando, rodando as telas, em um processo mecânico. Percebi que havia um trabalhador no ambiente. Ele parecia tentar achar uma broca de furadeira. Vi a instalação física que estava sendo trabalhada e falei: "Desculpe, o senhor deve estar procurando a 6, não?". - Sim, a seis - falou o técnico. "Use a seis" - e apontei para aquela broca que ele tentava achar porque eu sabia que aquela instalação requeria uma broca daquela numeração. Falei com o trabalhador sobre marca de lubrificante de furadeira, porque percebi pelo ruído e pela aparência que o equipamento estava travando. Motociclistas geralmente conhecem todo tipo de lubrificante. E o som de cada motocicleta: de uso urbano, esportivas, custom, trail, big trail, superesportivas, cinquentinhas fora do padrão de fábrica (hehe). De longe reconhecemos. Qualquer alteração na moto, qualquer indício de pane, nós identificamos. Se estivéssemos de olhos fechados, saberíamos dizer o quilômetro da rodovia, em razão do cheiro do ambiente rural, uma riqueza! Um momento ímpar! Ou como dizem os jovens de hoje: "show". Enfim, em uma singela conversa, eu sugeri que o trabalhador usasse um coletor de pó, um acessório que se acopla à furadeira e mantém o pó confinado, evitando a sua dispersão. Disse ainda que no apartamento da minha mãe eu costumava usar uma garrafa pet rasgada, um improviso, para evitar a propagação da poeira, quando eu precisava realizar algum trabalho. Voltando para a realidade da fila, o pessoal continuava ausente, distante, aqueles aparelhos não estavam nos bolsos, nas bolsas, nas mochilas, teimavam em ficar grudados nas mãos. Pareciam assumir a condição de força anímica, atuando na mente do Ser Humano, retirando-lhe a capacidade do fenômeno comunicacional ou de observar o ambiente. Cada rodada de tela assemelhava-se a uma tragada de cigarro ou charuto, que às vezes é até um desabafo silencioso, mas eloquente, apesar de não fumar. Havia uma imersão do ser no sistema operacional do smartphone! Que pena! Sequer um MEME eu vi. Eu gosto de memes. Gosto muito muito de memes relacionados principalmente à vida do concurseiro e àqueles do filme Tropa de Elite. Peguei minha encomenda, paguei. Agradeci e desejei uma boa noite a todos. Meu "like" foi deixado para os funcionários do estabelecimento e para o trabalhador eletricista, que estavam focados nos seus afazeres. Retornei para casa com as minhas sandálias desgastadas e amanhã, ao acordar, não vou sequer verificar o nível de bateria do celular. Um grandioso abraço, espero que um dia nos encontremos nos caminhos ou estradas da vida. Até lá! http://wiltonmoreira.com.br
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AUTOR:Wilton Moreira da Silva Filho ARQUIVOS
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